23/12/16 - Alimentos consumidos por milhões de pessoas no RS têm agrotóxicos proibidos

Segundo reportagem exibida hoje, 29 de dezembro, no telejornal Bom Dia Brasil, da Rede Globo, alimentos que chegam para 5 milhões de pessoas no Rio Grande do Sul estão contaminados com agrotóxicos proibidos. Muitos desses pesticidas entram ilegalmente no país pelas fronteiras.

Em uma operação feita na BR 290, em Eldorado do Sul, Região Metropolitana de Porto Alegre, a Polícia Rodoviária Federal apreendeu uma carga suspeita e acabou encontrando uma grande quantidade de Benzoato de Emamectina, um inseticida proibido no Brasil, autorizado somente para uso emergencial em casos de infestação de lagartas. O inseticida vem da China e entra ilegalmente no país pelas fronteiras.

Em Ciudad del Este, no Paraguai, a negociação começa já nas ruas. A venda acontece também em grandes lojas de defensivos agrícolas, sem a necessidade de receita. Alguns agrotóxicos são ilegais e outros são proibidos para determinados tipos de alimentos. Mesmo assim, eles acabam parando na mesa da população brasileira.

Segundo a Anvisa, os alimentos mais contaminados são alface, cenoura, morango, pepino e pimentão.

Os profissionais responsáveis pela reportagem compraram quatro amostras de cada um desses produtos vendidos na Ceasa em Porto Alegre. A coleta foi feita junto com especialistas da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), que a pedido do grupo RBS, afiliada da Rede Globo, analisaram as amostras. Das 20 amostras, nove estavam contaminadas com substâncias que não deveriam chegar a mesa do consumidor.

Nós não temos a menor ideia do que todos esses agrotóxicos combinados vão fazer dentro do nosso corpo. Mas, o que a gente tem visto hoje, é o aumento de doenças que as pessoas falam que ‘nem a ciência, às vezes, sabe de onde veio’

Gabriel de Carvalho (Farmacêutico – Bioquímico)

Entre os principais agrotóxicos encontrados está o metamidofós, totalmente proibido no Brasil desde 2012. O agrotóxico, encontrado no pepino, pimentão e alface, está relacionado a problemas no sistema respiratório, endócrino e reprodutor. Outro agrotóxico encontrado foi o acefato. Substância de uso restrito, autorizado para algumas verduras, mas proibido para os alimentos onde foi encontrado na análise. Estava presente na cenoura, pepino, pimentão e alface. Esse agrotóxico é associado à depressão e à doença de Parkinson.

Segundo levantamento do INCA, Instituto Nacional do Câncer, o Brasil é o maior importador mundial de agrotóxicos e também o maior consumidor.

De olho no uso excessivo de agrotóxicos em produtos da Ceasa, o Ministério Público propôs a quatro anos um termo de ajustamento de conduta. O acordo prevê a realização de 20 exames por mês, mas essa quantidade nunca foi alcançada.

O presidente da Ceasa/RS, Ernesto Teixeira, aponta como principal problema a estrutura do laboratório central do estado, responsável pelas análises. “A máquina do laboratório ficou estragada uns 6 meses. Nós mandamos várias notificações para a Secretaria de Saúde”, afirma.

Marilina Bercini, diretora do Centro de Vigilância em Saúde, declarou que o problema já foi resolvido. “As coletas não foram feitas porque o laboratório não estava podendo processar pelo problema da manutenção da peça. Foi tudo resolvido e o equipamento está em condições plenas de funcionamento”.

Depois das denúncias, foram realizadas duas reuniões entre a Ceasa, Ministério Público, produtores e representantes do laboratório do estado para a retomada das análises. A administração da Ceasa se comprometeu a acompanhar os resultados. Mas, as análises, ainda não começaram a ser realizadas.

A Polícia Rodoviária Federal do Rio Grande do Sul afirmou que não trabalha com uma fiscalização específica para agrotóxicos, mas faz operações permanentes contra crimes nas fronteiras e reconheceu que esse tipo de apreensão tem sido cada vez mais frequente nas rodovias gaúchas.




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