13/10/16 - Leite orgânico embalado em UHT

No mercado nacional, assim como ocorre com a cerveja, os consumidores de orgânicos têm poucas opções de outras bebidas, entre elas o leite. As ofertas mais comuns são sucos e chás. No Nordeste, por exemplo, há apenas uma marca de leite, a da fazenda Timbaúba, do produtor Osmando Xavier, em Cacimbinhas, no interior de Alagoas. Xavier é um dos poucos produtores reconhecidos pelo Instituto Biodinâmico (IBD), organização que certifica produtos orgânicos, e é único do País que produz o leite embalado em UHT, o popular leite de caixinha. “Os produtos orgânicos ainda estão nascendo”, diz Xavier. “As marcas estão em formação, mas estamos no caminho certo porque esse é um mercado que só cresce.”

O produtor está certo.No ano passado, o mercado de orgânicos movimentou R$ 2,5 bilhões, com expectativa de R$ 3 bilhões neste ano, de acordo com a Organics Brasil, programa para a promoção de produtos orgânicos, uma iniciativa do Instituto de Promoção e Desenvolvimento (IPD) e da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). Hoje, o Brasil ocupa a 10ª posição em área destinada a orgânicos, com cerca de 700 mil hectares e 13 mil produtores; a Austrália é a número um, com 12 milhões de hectares.  “Nosso mercado é relativamente novo no mundo, mas tem muito potencial para crescer aqui e lá fora”, afirma Ming Liu, coordenador executivo do Organics Brasil. “Já construímos um mercado, hoje crescendo e com investimentos em alta.

Já o leite da Timbaúba pode ser encontrado na rede Pão de Açúcar do Rio de Janeiro e de São Paulo, além de casas de produtos finos na capital paulista, como Eataly e Santa Luzia.  Em Maceió, Xavier mantém uma loja própria. O leite é produzido por um rebanho de 650 fêmeas da raça girolando, com 220 em lactação alimentadas exclusivamente com capins e palma forrageira. Da ordenha saem três mil litros por dia, dos quais dois mil Xavier consegue colocar no mercado como orgânico. O produtor não revela seu faturamento, mas dá para ter uma ideia do negócio. O custo de produção, sem contar o processamento no laticínio, é de R$ 1,50 por litro, com a venda ao consumidor por R$ 7,50. Apesar disso, o leite é um mercado ainda mais desafiador que outras bebidas, como a cerveja, os sucos e os chás. “O desafio do leite orgânico é ser reconhecido como um produto alimentar rotineiro e não apenas como uma indicação de nutrição”, afirma Xavier.

O produtor sabe do que está falando. Formado em agronomia na década de 1990 e amante das teorias de Ana Maria Primavesi, agrônoma austríaca radicada no Brasil e reconhecida mundialmente por  suas teorias sobre ciências do solo, Xavier já havia tentado se estabelecer no mercado de orgânicos em 2004, juntamente com o irmão Eriberto. “Foi um fracasso, depois de investirmos R$ 400 mil na construção de um laticínio”, diz ele. “Produzíamos 1,5 mil litros diários, para um laticínio com capacidade de oito mil litros e não vendíamos nem 100 litros por dia.” Hoje, o laticínio que processa 11 mil litros com a marca Mainha está fora do mercado de orgânicos, comprando leite de terceiros, embora na fazenda os irmãos jamais abandonaram a produção orgânica.

A reentrada no mercado aconteceu em 2012, quando Xavier fechou uma parceria com o laticínio Murici, também em Alagoas, que conta com o Serviço de Inspeção Federal (SIF), abrindo a possibilidade de comércio para todo o País. Além da inspeção, o que seduziu Xavier na parceria foi a possibilidade de esterelizar o leite, sem investir R$ 5 milhões em equipamentos. “Agora, vendo cerca de 30% fresco, pasteurizado, e o resto em garrafa pet, com durabilidade de quatro meses”, diz o produtor.  “Hoje quero mais e por isso já penso em aumentar o negócio.”  Os próximos passos são lançar achocolatados orgânicos e abrir mais duas lojas próprias em Maceió.




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