17/02/17 - Mercado brasileiro de orgânicos precisa se diversificar, afirma especialista

De um lado, demanda crescente. De outro, oferta limitada. Para se consolidar, o mercado brasileiro de orgânicos precisa se diversificar e agregar valor a seus produtos, como ocorre em outros países. É o que afirma a coordenadora do Centro de Inteligência em Orgânicos (CI Orgânicos) da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Sylvia Wachsner.

“A produção continua a crescer, mas a demanda ainda é maior. Os consumidores querem adquirir alimentos orgânicos, mas os produtores ainda não vêem necessidade de inovar e incrementar a variedade da oferta, como no caso de um mercado consolidado”, comenta.

Para a coordenadora da SNA, a cadeia de orgânicos está em construção e precisa superar seus atuais gargalos. “Há diversos entraves na cadeia de fornecimento, como falta de insumos, sementes de qualidade e falta de conhecimentos técnicos que ajudem os produtores. No caso das agroindústrias, há poucos fornecedores, pouca diversidade para suprir, e torna-se complicado para elas arriscar, colocando no mercado novos produtos, sem estar certo de contar com um fornecimento constante de ingredientes orgânicos”.

EM BUSCA DE INICIATIVAS

Porém, existem possibilidades para diversificar a produção. No caso dos produtores de hortaliças e verduras, Sylvia diz que “o desafio é inovar, a partir da recuperação de cultivares esquecidas”, e cita como exemplo “os tomates grandes de diversas cores, mais doces, de formatos não estandardizados, conhecidos por heirloom ou coração de boi, com o nome científico de Solanum lycopersicum”.

A cenoura também pode ter outras variações. “Os produtores poderiam oferecer, além da tradicional cenoura laranja, outras coloridas: amarelas, violetas e brancas. As mesmas cenouras coloridas têm tamanhos diferenciados das tradicionais, mais magras ou menores. O sabor varia de cor em cor, e algumas são mesmo mais doces. Criam-se novos nichos de mercado, e os produtores saem da mesmice”, destaca Sylvia, que considera importante a realização de projetos e parcerias envolvendo entidades de peso como a Embrapa.

Outras iniciativas, que englobam grandes redes de fast food, começam a atender o crescente interesse dos consumidores por alimentos mais saudáveis. “O McDonalds começa a experimentar, oferecendo saladas com ingredientes orgânicos. Mas o fornecimento para grandes cadeias exige outro tipo de gestão e de investimento da parte dos produtores”, sinaliza a coordenadora da SNA.

VALORIZAÇÃO

A exemplo do que ocorre com alguns produtos típicos do Brasil, que merecem destaque por fatores como qualidade, tradição e valor agregado, os produtos orgânicos, na opinião de Sylvia Wacshner, também têm potencial para alcançar os mesmos padrões.

“No Rio de Janeiro começamos a ver a valorização de queijos vindos de outros estados, como o canastra de Minas Gerais, queijos artesanais, e outros ganhadores de prêmios. Similar ao que ocorre com a produção da cachaça, não industrial, ou as cervejas artesanais, não são produtos elaborados em escala industrial, e que incrementam a diversidade da oferta, permitindo agregar valor aos produtores. São produtos que podemos qualificar como premium”, ilustra Sylvia, lembrando ainda das pequenas empresas no Rio e em São Paulo que oferecem pães artesanais, com farinhas integrais, utilizando diversos grãos, sementes ou frutas”.

ABRINDO MERCADOS

Enquanto no Brasil o foco da produção orgânica é o mercado interno, países como o Peru e o México têm se especializado em produzir alimentos orgânicos para exportação, como no caso da banana, mirtilo, abacate e café, além de outros produtos convencionais com valor agregado.

“O Peru tem demonstrado capacidade tanto para exportar com agregação de valor como para abrir mercados sem concorrência”, observa a coordenadora do CI Orgânicos. Atualmente, o país exporta a fruta camu-camu, com vitamina C (que também é produzida no Brasil), e colocaram no mercado o sacha-inchi, semente da Amazônia, rica em ômega 3.

“Falta ao Brasil inovação e ousadia para abrir mercados direcionados a produtos da nossa biodiversidade, e com foco em sua valorização. São caminhos que também poderiam ser seguidos pelos produtores de alimentos orgânicos”, conclui Sylvia.


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