22/05/17 - Suprema Corte dos EUA revela que gerente da Monsanto encobriu provas relacionando o câncer ao uso de glifosato e PCBs

George Levinskas, antigo gerente da Monsanto, o mesmo que ajudou a esconder o potencial carcinogênico do DDT na década de 1970, parece ter também influenciado a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) em relação ao herbicida mais utilizado no mundo – o glifosato – nos anos 80, segundo documentos revelados pelo tribunal da Califórnia, nesta terça-feira (19).

Em março de 2015, o site Sustainable Pulse descobriu que, durante 30 anos, tanto a Monsanto quanto a EPA esconderam o provável potencial carcinogênico do herbicida mais utilizado no mundo – o glifosato. Esta omissão foi agora confirmada por documentos divulgados pelo Tribunal do Distrito dos EUA em São Francisco.

O US Right to Know (USRTK) informou nesta quarta-feira que mais de 50 ações judiciais contra a Monsanto estão pendentes no Tribunal de São Francisco, apresentadas por pessoas que alegam que a exposição ao Roundup, um herbicida à base de glifosato, causou a eles ou a seus familiares o linfoma não-Hodgkin, e dizem que a Monsanto encobriu os riscos.

No dia 13 de março de 2017, o juiz distrital dos Estados Unidos, Vince Chhabria, determinou –– sob as objeções da Monsanto – que os documentos obtidos nesta descoberta pudessem ser revelados.

Os documentos divulgados evidenciam como a Monsanto influenciou a EPA a alterar a classificação de 4 de março de 1985, do glifosato como carcinogênico de Classe C – mostrando potencial sugestivo de potencial carcinogênico – para a classe E, que sugere “não-carcinogenicidade para humanos”, em 1991.

Esta alteração na classificação do glifosato ocorreu durante o mesmo período em que a Monsanto desenvolvia suas primeiras colheitas transgênica de sementes resistentes ao glifosato – Roundup-Ready.

Logo após a descoberta, por parte da Agência Internacional de Pesquisa do Câncer (IARC), de que o glifosato causa câncer, em março de 2015, o Sustainable Pulse descobriu documentos da EPA de 1991 que mostram como a Monsanto financiou um estudo de segurança a longo prazo com glifosato em camundongos, que, segundo os especialistas da EPA, revelava o alto risco de uso da substância, foi “revisado” inúmeras vezes até que misteriosamente não mostrasse nenhum potencial cancerígeno.

A razão para a revisão e à mudança na classificação do glifosato em 1991, por parte da EPA, era desconhecida até esta semana. Agora, porém, ficou claro que a EPA foi fortemente influenciada pela Monsanto durante o processo de reclassificação.

O Homem da omissão da Monsanto: Dr. George Levinskas

O Dr. George Levinskas, começou a trabalhar na Monsanto em 1971 e tornou-se Diretor de Avaliação Ambiental e Toxicologia, foi um dos principais agentes na cobertura do potencial carcinogênico dos DDTs proibidos na década de 1970.

A Monsanto começou a encomendar estudos de toxicidade animal em PCBs no início dos anos 70, mas os resultados não foram bem. “Nossa interpretação é que os PCBs estão exibindo um maior grau de toxicidade neste estudo do que tínhamos previsto”, escreveu um executivo.

Em 1975, um laboratório apresentou seus resultados de um estudo usando ratos. Um esboço antecipado dizia que, em alguns casos, os PCBs haviam causado tumores. O Dr. Levinskas escreveu ao diretor do laboratório: “Podemos solicitar que o relatório seja alterado para dizer ‘não parece ser cancerígeno’”. O relatório final retirara todas as referências a tumores.

O agora falecido Dr. Levinskas parece ter sido também protagonista em esconder o potencial carcinogênico de glifosato. Ele escreveu uma carta interna na empresa, em 1985, afirmando o seguinte: “A alta administração da EPA está revisando uma proposta para classificar o glifosato como uma classe C “possível carcinogênico humano” por causa de adenomas renais em camundongos machos. O Dr. Marvin Kuschner irá rever as seções renais e apresentar a sua avaliação para a EPA em um esforço de persuadir a agência de que os tumores observados não estão relacionados com glifosato”.

Os 30 anos de omissão do câncer decorrente do uso do glifosato vão ficar na história como mais um fracasso – do governo dos EUA, da EPA e dos reguladores mundiais –, no que tange a colocar a saúde do público em geral antes da necessidade de proteger e expandir os lucros das empresas.

 

 


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